Entre o Caos e o Belo: o que fazemos com o que não controlamos

Há um mistério pairando sobre cada manhã.
Mesmo quando o despertador toca no mesmo horário e o café exala o cheiro conhecido de sempre, nada — absolutamente nada — garante que o dia será como imaginamos.
A vida, essa artista indomável, tem o hábito de pintar fora das bordas do nosso planejamento.

Mas, ainda assim, seguimos — nós, humanos — tentando alinhar os talheres da existência.
Temos uma queda por perfeições.
Uma lista de metas, um corpo sem rugas, sentimentos bem comportados, respostas prontas, uma casa sem poeira nas esquinas da alma.
Como se a ordem garantisse sentido.
Como se o controle fosse sinônimo de segurança.

A verdade, no entanto, é que há uma beleza crua em tudo aquilo que escapa.
No improviso, na lágrima que cai sem aviso, na falha do plano.
Nas rachaduras por onde a luz entra, como dizia Leonard Cohen.
É ali que mora o milagre da transformação: no encontro inesperado, no erro que vira epifania, na pausa forçada que revela um novo ritmo.

A mania de perfeição é uma forma disfarçada de medo.
Medo de ser visto como falho.
Medo de não ser amado se não formos impecáveis.
Medo de perder o controle e cair num abismo — sem saber que, às vezes, é exatamente na queda que encontramos nossas asas.

Aceitar a imperfeição não é desistir de crescer.
É, talvez, o contrário.
É crescer com humildade, com a sabedoria dos que sabem que a vida não é uma linha reta — é um caminho de pedras, folhas secas, flores inesperadas e curvas sinuosas.
É se permitir ser um poema em constante reescrita.

Então, da próxima vez que a vida bagunçar seus planos, lembre-se:
nem todo caos é destruição.
Alguns são convites.
Convites para viver o que não se pode controlar, mas se pode sentir.
E, quem sabe, amar — ainda que imperfeitamente.

Beijo-te
Papoula

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