Coisas que nos ferem de forma invisível

Existem frases que escorregam da boca como se fossem ditas ao vento.
Frases embaladas em risadas, em conselhos “de mãe”, em ditos “de vó”.
Palavras que já vieram com cheiro de café coado,
mas também com o gosto amargo do julgamento velado.

“Quem ri demais, dá bom dia a cavalo.”
“Mulher direita não fala alto.”
“Se arrumou pra quem?”
“Tá na idade de sossegar.”

Ditados populares.
Regras disfarçadas de sabedoria.
Ordem social em forma de piada.
Repressão em voz mansa.

Elas nos atravessam como se fossem inofensivas.
Mas vão se infiltrando feito veneno lento —
nos gestos, nos silêncios, nas escolhas que deixamos de fazer.

E quando percebemos, já estamos nos policiando:
no jeito de andar, no quanto sorrimos, no quanto mostramos do corpo ou da alma.
Como se liberdade fosse excesso.
Como se alegria fosse vulgaridade.
Como se autonomia fosse solidão.

Mas hoje, eu te proponho outra coisa:
Que tal começar a duvidar do que sempre foi dito como certo?
Que tal rasgar esses provérbios que nunca foram nossos?

Porque mulher nenhuma nasceu pra viver em ditado.
Mulher nasceu pra ser verbo.
Pra conjugar liberdade em todas as pessoas, em todos os tempos.
Pra rir alto, amar se quiser, vestir o que quiser, falar quando quiser.
Sem pedir desculpas.

Deu pra captar?
Beijo-te – Papoula

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *